Quando o gesto se torna uma dança? Quando o gesto se torna poesia?

J’ai tendu des cordes de clocher à clocher; des guirlandes de fenêtre à fenêtre; des chaînes d’or d’étoile à étoile. Et je danse.

Eu estendi cordas de campanário à campanário; guirlandas de janela à janela; correntes de ouro de estrela à estrela. E eu danço.

Illuminations, Arthur Rimbaud

Avançando na trilha da investigação do tônus, retomo o artigo anterior e sigo as suas pegadas.

Afinar o tônus é encontrar o tom, a tonalidade, o ritmo, a melodia, a poesia. Minha tonicidade contagia o outro; o outro me contagia com a sua tonicidade. Eu sou a afinadora, a compositora e a executora de uma obra sinfônica. E de repente me percebo como uma maestrina conduzindo a sinfonia de minha vida; sinto-me vivendo a vida como uma grande obra de arte. Sou arte, sou poesia.

Sinto que o gesto se torna poesia quando permito com que o movimento nasça dos ossos, da musculatura profunda, esquelética.  

Experimento, primeiramente com os olhos fechados, deixar-me expandir por dentro como uma flor ao abrir suas pétalas. Quando a abertura dos espaços no interior do corpo acontece em sua totalidade e integralidade, o contato consciente comigo mesma se estabelece e a tonalidade tônica dos tecidos (ossos, músculos, fáscia, pele, fluidos….) alcança um equilíbrio, equilíbrio dinâmico. E, então, danço por dentro de mim mesma.

É esse o território do gesto e movimento orientados, conscientes e presentes; do movimento expressivo e criativo; do fazer artístico; da vida como obra de arte.

E, então, eu danço.

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Contemplo o desabrochar da flor. Deixo florescer.

Fonte do vídeo: Flor de Lótus https://pin.it/5q8rVDOur Pinterest