Regina Devescovi

A Beleza Essencial

“Se a beleza é inerente e essencial à alma, então a beleza aparece sempre que a alma aparece. Essa revelação da essência da alma, o verdadeiro mostrar-se de Afrodite na psique, seu sorriso, é chamada de beleza na linguagem dos mortais. À medida em que exibem sua natureza inata, todas as coisas apresentam a natureza áurea de Afrodite; elas brilham e dessa forma são estéticas.
A beleza não é um atributo como uma película envolvendo uma virtude, meramente o aspecto estético da aparência. É a própria aparência. Se não houvesse beleza, junto com a bondade e a verdade e o uno, nunca poderíamos sentí-los, conhecê-los. A beleza é uma necessidade…; é o modo como os Deuses tocam nossos sentidos, alcançam o coração e nos atraem para a vida.”
“O pensamento do coração e a alma do mundo”, de James Hillman (pgs. 46,47).
Capa: Art by Pinterest

O que é a Abordagem Integrativa Transpessoal

A psicoterapia transpessoal trata do estudo da consciência em suas múltiplas dimensões: resgata a dimensão energética e considera os vários níveis da realidade na experiência humana. Recolhe o conflito do mundo cotidiano e eleva-o a outros níveis da realidade. Uma vez recolhido e trabalhado, esse conflito é devolvido, transmutado, para a nossa atualidade terrena e espaço-temporal.

É uma abordagem terapêutica que enfatiza a busca pelo autoconhecimento e bem-estar emocional. Concentra-se no desenvolvimento pessoal e na conexão com a essência do ser humano ao explorar as dimensões espirituais e transpessoais da vida.

É uma abordagem holística que considera o ser humano como um todo, incluindo as dimensões físicas, emocionais, mentais e espirituais. Concentra-se na compreensão da pessoa como um ser em constante evolução e em busca de significado e propósito na vida. A psicoterapia transpessoal acredita que as pessoas têm dentro de si as respostas para suas próprias questões e que o papel do terapeuta é ajudá-las a encontrar essas respostas.

A Abordagem Integrativa Transpessoal foi criada e sistematizada por Vera Saldanha, psicóloga brasileira e uma das mais importantes referências atuais no campo da Psicologia Transpessoal. A sistematização de seus principais conceitos foi feita em sua tese de doutorado (Saldanha, 2006), após ter trilhado um caminho de extensa e profunda aplicação dos postulados da Psicologia Transpessoal nas áreas da saúde, educação e pesquisa.

A autora vem percorrendo o caminho da orientação transpessoal desde 1978, quando participou do IV Congresso de Psicologia Transpessoal. Aí, teve a oportunidade de conhecer Pierre Weil e Stanislav Grof (influentes pensadores, pesquisadores, educadores e terapeutas no campo da psicologia humanista e transpessoal), tendo estabelecido, a partir de então, uma profunda amizade e uma parceria intelectual bastante profícua com Pierre Weil. Hoje, a frente da Associação Luso-Brasileira de Transpessoal, ela coordena o Curso de Pós ­Graduação Lato Sensu em Psicologia Transpessoal, pesquisando e ensinando a Abordagem Integrativa, com base na didática transpessoal por ela sistematizada.

As seções são organizadas em torno da compreensão de que o desenvolvimento pessoal ocorre com base nas experiências (ou eixo experiencial) e desenrola-se em torno de entendimentos e vivências cada vez mais integrativas do ser (ou eixo vertical). Os recursos utilizados são: intervenção verbal, imaginação ativa, reorganização simbólica, dinâmica interativa e recursos adjuntos (práticas de meditação, de relaxamento e de consciência corporal).

Enfim, a terapia de abordagem transpessoal é uma abordagem terapêutica holística que enfatiza a busca pelo autoconhecimento, espiritualidade e bem-estar emocional. Auxilia a pessoa a desenvolver uma maior compreensão de si mesma e do mundo a seu redor, permitindo com que se sinta mais inteira, auto confiante e conectada à vida.

Algumas Reflexões e Insights no “Reflexões”

Como terapeuta transpessoal, eutonista e educadora do movimento, passei anos me trabalhando e trabalhando com pessoas que desejam melhorar a qualidade de suas vidas – seja através da consciência corporal, gestual e motora; seja através do diálogo e da meditação. Algo que aprendi e continuo aprendendo é que as auto-descobertas sobre a integração corpo-mente são fundamentais para a saúde e o bem-estar.

O grau de consciência de que somos uma totalidade composta de várias camadas – desde as mais sutis até as mais densas – reflete-se na relação de nossos pensamentos e sentimentos com as sensações, bem como no modo como lidamos com o auto cuidado e com a percepção e organização do corpo no espaço. O grau e tipo de interação entre as várias camadas de nós mesmos desempenham um papel crucial na forma como nos sentimos, pensamos e nos comportamos. Sustentar a consciência dessa dinâmica em nossas vidas cotidianas resulta em corpos mais harmônicos, equilibrados e auto-regulados e, consequentemente, no desenvolvimento da capacidade de expressar nossos pensamentos, sentimentos e necessidades com mais autenticidade e espontaneidade.

Em minha experiência, percebo que os desdobramentos do contato consciente com o corpo são: mais saude e bem-estar, e maior criatividade e perspicácia para lidar com os desafios que a vida nos apresenta.

Após uma sessão, após uma vivencia, sinto que o trabalho permanece ao longo do dia: manifesta-se numa fala mais sensível, num encontro mais aberto e verdadeiro, num olhar mais amoroso diante de uma situação, num modo mais atento e cuidadoso de como vou criando a minha realidade. O trabalho revela-se mesmo que não seja chamado: resvala pelos poros e insinua-se nos detalhes. Simplesmente acontece.

E então, vou me percebendo deixar fluir na vida, sem resistência, caminhando mais desperta rumo ao desconhecido.