Deixar Florescer

Contemplo o desabrochar da flor e deixo florescer.

Quando contemplo a flor que se abre, mergulho e me integro a ela: vislumbro superfície, pétalas, profundidade. Vislumbro camadas que se revelam, desvelam. Vislumbro estreiteza e amplitude; o fora, o dentro e o centro.

O tônus quando se redistribui, se espalha e se reequilibra, é como uma flor que desabrocha.

Transito para o espaço interior de meu corpo, focalizo uma vértebra: observo e sinto. Respiro…. Entrego-me ao corpo a partir do ponto focado; entrego-me à observação e sensação da vértebra. E então tudo se modifica. Por dentro. De dentro para fora. Sinto algo abrir-se e expandir-se. Ancorada à terra, elevo-me e flutuo. E da horizontalidade da terra alcanço a verticalidade do manancial de vida que jorra de mim.

A partir dos centros – umbigo e meio do peito -, espalho-me para cima, para baixo, para a frente, para trás, para os lados, para o alto. Por alguns minutos vibro em ressonância com o universo.

Reconheço…: Eu Sou o que Sou.

Imagem: https://pin.it/57fSkHRHy Pinterest

Vídeo: https://www.youtube.com/watchv=f09O1XD3nbQ&list=PLJWdhRuMmf_e6OI3UBlTf68R3poxMfMfh&index=4

Da experiência do corpo dançante à consciência do mundo invisível

E sigo…observando, sentindo, decantando, descobrindo, iluminando, integrando….

Observando e Sentindo

Após ter dissolvido as tensões excessivas que teimam em se fixar em determinados lugares (em mim nos ombros e no pescoço), todo o corpo se integra. Tecidos, em suas várias camadas, fluidos corporais e correntes de força conectam-se entre si, como que em uma dança feita entre vários solistas: trocas, rodopios e movimentos espiralados. Os excessos de tensão localizada distribuem-se pelos espaços interiores e o tônus alcança um equilíbrio dinâmico – caminhos internos iluminam-se; correntes de força transmutam-se em elegância; espaços internos alargam-se, movimentos internos ganham em plasticidade.

Sinto que é preciso distribuir os excessos para, então, atingir uma outra qualidade tônica. Essa qualidade me remete a um estado alterado de consciência.

Decantando e Descobrindo

A distribuição dos excessos costuma conduzir-me a uma percepção de descanso nos “vazios” do espaço interior e a um sentimento de segurança. O corpo revela-se, então, como uma sustentação, um refúgio, um colo. Na posição deitada, descanso em meu corpo. E entregue à força da gravidade, conecto-me à terra. Através da fisicalidade de meu corpo, surpreendo-me acolhida no colo de meu corpo, acolhida no colo da terra. Ergo-me: continuo ancorada à terra e conectada ao eixo vertical.

Sinto o acolhimento; percebo os vazios. Se há flutuação tônica, há movimento; se há vazios, há espaços para dançar, dançar por dentro. Ouço a música que toca dentro de mim e danço em sintonia com os ritmos e melodias internos.

Iluminando e Integrando

Sim! Com o tônus equilibrado foco meu centro (pelve, centro da bacia), eixo vertebral e cintura escapular. Tudo no corpo vai entrando no lugar – as articulações se reposicionam, a coluna recupera as curvas anatômicas e fisiológicas e o empilhamento das vértebras entra em alinhamento.

A qualidade do tônus, conquistada no centro, espalha-se e ilumina espaços e caminhos internos. Quando o tônus justo (nem muito alto, nem muito baixo) se propaga por todo o corpo, rompo barreiras físicas, me alargo e me engrandeço, encontro e sinto o espaço radiante – o campo de energia que me envolve.

Toco o manancial de vida que ressoa dentro de mim e mergulho na dança da vida que pulsa em mim e no universo.

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Quando o gesto se torna uma dança? Quando o gesto se torna poesia?

J’ai tendu des cordes de clocher à clocher; des guirlandes de fenêtre à fenêtre; des chaînes d’or d’étoile à étoile. Et je danse.

Eu estendi cordas de campanário à campanário; guirlandas de janela à janela; correntes de ouro de estrela à estrela. E eu danço.

Illuminations, Arthur Rimbaud

Avançando na trilha da investigação do tônus, retomo o artigo anterior e sigo as suas pegadas.

Afinar o tônus é encontrar o tom, a tonalidade, o ritmo, a melodia, a poesia. Minha tonicidade contagia o outro; o outro me contagia com a sua tonicidade. Eu sou a afinadora, a compositora e a executora de uma obra sinfônica. E de repente me percebo como uma maestrina conduzindo a sinfonia de minha vida; sinto-me vivendo a vida como uma grande obra de arte. Sou arte, sou poesia.

Sinto que o gesto se torna poesia quando permito com que o movimento nasça dos ossos, da musculatura profunda, esquelética.  

Experimento, primeiramente com os olhos fechados, deixar-me expandir por dentro como uma flor ao abrir suas pétalas. Quando a abertura dos espaços no interior do corpo acontece em sua totalidade e integralidade, o contato consciente comigo mesma se estabelece e a tonalidade tônica dos tecidos (ossos, músculos, fáscia, pele, fluidos….) alcança um equilíbrio, equilíbrio dinâmico. E, então, danço por dentro de mim mesma.

É esse o território do gesto e movimento orientados, conscientes e presentes; do movimento expressivo e criativo; do fazer artístico; da vida como obra de arte.

E, então, eu danço.

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Contemplo o desabrochar da flor. Deixo florescer.

Fonte do vídeo: Flor de Lótus https://pin.it/5q8rVDOur Pinterest

Inspirações

INSPIRAR. EXPIRAR. RESPIRAR. INSPIRAÇÕES.

“Só ela ouvia música; aliás, era ela que escolhia, mentalmente, as músicas que ouvia, ouvia secretamente essas músicas.

E dançava com essas músicas; dançava com os olhos, com movimentos de cabeça, com os braços.

Podia estar a ouvir pessoas e estar, ao mesmo tempo, a dançar essas músicas.

Dançava; às vezes, por dentro de si mesma.”

Armando Baptista-Bastos.

Art by Pinterest ( stanleyrosemandance.com )

A Beleza Essencial

“Se a beleza é inerente e essencial à alma, então a beleza aparece sempre que a alma aparece. Essa revelação da essência da alma, o verdadeiro mostrar-se de Afrodite na psique, seu sorriso, é chamada de beleza na linguagem dos mortais. À medida em que exibem sua natureza inata, todas as coisas apresentam a natureza áurea de Afrodite; elas brilham e dessa forma são estéticas.
A beleza não é um atributo como uma película envolvendo uma virtude, meramente o aspecto estético da aparência. É a própria aparência. Se não houvesse beleza, junto com a bondade e a verdade e o uno, nunca poderíamos sentí-los, conhecê-los. A beleza é uma necessidade…; é o modo como os Deuses tocam nossos sentidos, alcançam o coração e nos atraem para a vida.”
“O pensamento do coração e a alma do mundo”, de James Hillman (pgs. 46,47).
Capa: Art by Pinterest

Corpo-Máquina e Corpo Vivo